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os trens não se atrasam, estantes não juntam pó

poetas que não se acomodam na geometria do ocultar

poemas que já são todos os poemas que não foram escritos

ainda assim, há tempestade

uma tempestade da qual não é possível recuar –

é levitar e não saber do impossível

(lá, Deus aluga seus guardas-sóis coloridos)

sono de anzóis, pólen embrutecido

aprendendo, em sua contratura, o folhear dos cílios –

então você me diz que não conseguiu dormir

em seus olhos, de novo, o brilho do Rivotril

e o tempo que nos protege enquanto aceno

ao que vai se deixando (e ao que vai ficando)

pela linguagem que desaprendemos

e de mãos dadas ainda dizemos ser nossa

essa luminosidade, esse reincidente amor

e, por ele, o que, na secura do andar, não sumiu

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